sábado, 21 de junho de 2008

Cresço devagar como quem tem medo de fazer barulho. Cresço aos poucos porque preciso observar essa eterna composição e decomposição das coisas, vida e morte das máscaras que uso diariamente.
Os dias se transformam em anos e os anos em armaduras. Elas são frágeis, feitas de silêncio. Desejam invisibilidade e pedem golpes mais fortes. Não quero proteção, prefiro sentir todos os pequenos notáveis arranhões. Cresço aos poucos porque preciso observar essa eterna composição e decomposição das coisas, vida e morte das armaduras que uso diariamente.

terça-feira, 3 de junho de 2008

E como é bom passar as madrugadas lembrando daqueles pequenos gestos, daquela voz de culpa e pudor, daquele jeitinho filho da puta... É bom não ter você aqui comigo. É bom não poder te tocar. Minhas palavras são confusas e entediam, mas hoje que passei da conta, dos drinks, da medida-correta-para-uma-pessoa-de-bem, gostaria de falar. Gostaria de entediar. Quero causar coceira. Talvez eu ainda tenha quinze anos, talvez você seja velha, talvez o mundo cansou. O teu mundo não, o meu. Acho que deve ser colorido aí dentro, sabe? Com uma pequena escala de cinza ali no cantinho, mas todo o resto é colorido. Pra falar a verdade, não adianta tentar escrever sobre o teu mundo ou a tua bolha. É que a vontade de fazer algo me consome e eu só posso escrever, produzir lixo. Até mesmo te passar um trote seria impossível, não consigo atender telefonemas. Discar um número seria tentativa de suicídio, tenho coração de velha mal cuidada. Tudo aqui dentro é mal cuidado, mas é quentinho e você sabe como levantar da cama pode ser destruidor. Máquina Mortífera! você gritaria e começaria a rir porque não consegue agüentar tanta viscosidade vinda de mim. Entendo perfeitamente. P-E-R-F-E-I-T-A-M-E-N-T-E.

Tenha uma boa noite e uma boa semana. Maria la del Barrio soy, é verdade. O melhor de tudo é que você nunca lerá nada disto ;)

As coisas são bem mais confortáveis assim.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Cara, hoje detonei o maço de cigarros cedo demais e vim até aqui conversar. Há um abismo imenso entre nós: você é destro e eu sou canhota. Pega teu casaco e some da minha frente. Leva teu Frank Sinatra junto, já me deu nos nervos. Ele é bonito demais, tipo você. A casa é tua? Posso ficar aqui e ligar o gramofone? Você é tão bonzinho, chega a dar nojo. Não, nojo não. Desta vez vou falar a verdade, nada mais que a verdade, somente a verdade. Teus gestos são perfeitos, tua voz é perfeita, teu sorriso é perfeito. Tudo aí dentro é tão perfeito que me faz sentir I N V E J A. Gostou? Não precisa falar que sou ótima atuando, sei disso. Você que é um filho da puta e faltou em todas apresentações. Morra de arrependimento, maldito. Tava fazendo sexo com o namorado num motel de quinta categoria! Qualquer um percebe porque no dia seguinte você fica com cara de gente viva. Agora me dê colo e fique por dentro da última: estou congelada.

sábado, 24 de maio de 2008

"Não me peça que lhe faça uma canção como se deve
Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve
Sons, palavras são navalhas e eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém
Mas não se preocupe meu amigo com os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção, a vida realmente é diferente
Quer dizer, a vida é muito pior..."


G.B.B
(Grande Bigodudo Belchior)


quarta-feira, 21 de maio de 2008

É agora que te vejo tropeçando quase caindo, quase viva, quase alguém. É agora que te vejo enlouquecendo quase bonita, quase um pub, quase vinho.
Quando surgir aquela velha dúvida entre ser tragável ou não, boa ou má, vou te ouvir gritar que as minhas estúpidas análises não servem para porra nenhuma. Não servem mesmo. Aí você sairá correndo com quase vontade de se jogar da ponte, quase mulher, quase vivendo.
Quarenta e sete minutos depois você olhará nos meus olhos quase arrependida. Vai me pedir um cigarro, uma vodka, uma cachaça. Talvez peça até colo.
Tudo isso é quase bom.

sábado, 17 de maio de 2008

- O que você pretende escrever hoje?

- Não sei. Bunda?

- Parece ruim. Escreva, escreva! Adoro todo o teu lixo.

- Cara, não posso escrever sobre bunda. Bunda é bonito, quero algo feio parecido com cu.

- Então escreva sobre cu. Cu é bem feio e...

- Cu é lindo! Sabe a Adélia Prado?

- Sua tia?

- Quem sabe em outra vida. Já te contei sobre a minha morte de 1967, esqueceu? Tive uma tia escritora, lembro disso. Não lembro lembrando de verdade nem nada, mas eu sinto. Também sinto vontade de fazer amor com o padre Jorge por quinze horas ininterruptas.

- Fazer amor? Faça-me o fav...

- Não posso dizer que quero trepar até desmaiar de fome! Deve ser pecado pensar isso de um padre.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Minha doce-amarga mulher vulgar perdida no chão entre os livros de páginas amarelas e telas de pinturas negras, tudo em você é faca. Tudo em você sangra. Pegue na minha mão esquerda e só por hoje não tente arrancar o meu estômago, só por hoje não dance com sede de destruição. Ainda te quero como a uma louca sinfonia deprezada por todos, mas hoje não grite. Preciso te devorar, comer teu cinismo-ódio-medo até que eu possa voltar para casa e morrer lentamente como antes.









Maria la del Barrio soy.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Não há rotina aqui.